Thor, cerveja e o sagrado



A abertura de qualquer cerimónia implicava uma consagração solene, de votos de paz e prosperridade para todos os participantes feita pelo sacerdote no Thing-jurídico, gesto com idêntico efeito nas Thing-convívio. E abria-se erguendo o primeiro corno e com ele se verbalizava o nome sagrado subjacente ao espírito tutelara. O carácter sagrado da ocasião estava centrado precisamente no conteúdo transbordante dos cornos de cerveja, a bebida mágica, do êxtase e da imortalidade. Enormes vasilhas ou cupas colocadas no centro no salão borbulhavam de cerveja consagrada ao clã, à comunidade - ale-frith. Será a cupa utilizada nas grandes libações de cerveja nas festividades principais na esperança de atrair as forças positivas do destino. Os banquetes festivos, bailes de Yule em honra dos mortos ou comemorações de um triunfo ou pela proteção dos ancestrais, em qualquer das circunstâncias fermentava-se uma cerveja especial e adequada a cada situação.
As guildas uniam-se numa comunhão eucarística induzindo a todos um sentimento de solidariedade e único, fortalecendo toda a organização social, familiar, religioso e guerreiro. Beber era, pois, um elemento essencial no rito de agregação e de união entre homens e deuses. E Mjolnir consagrava a ocasião. Já nos tempos do Cristianismo os ferreiros forjavam tanto a cruz cristã como o martelo de Thor. O símbolo de excelência dos Viquingues era esculpido nas pedras que fixavam fronteiras, colocado no regaço da noiva para lhe propiciar fertilidade e oficializar as núpcias. No ritual de integração de uma criança erguia-se o martelo em sinal de aceitação do novo membro da comunidade. Era inscrito em memoriais de pedra em honra do falecido para que siga para o outro mundo sob a proteção de Thor e também como sinal nas necrópoles para sacralizar os mortos. 

Thor usou o seu martelo para benzer o barco-pira de Balder, na sua viagem para o submundo, com a promessa do seu regresso na alvorada espiritual, após o Ragnarok. O martelo também restituía os mortos à vida. Com ele, Thor ressuscitava os seus dois bodes negros que eram abatidos para alimentar o deus e os seus companheiros de jornada no combate às forças destrutivas dos Gigantes de gelo. Guardião dos deuses e da Terra, Thor era representado como uma entidade impulsiva e temperamental. Ele era tanto raiva no combate, força, como os excessos de ingestão de cerveja, e também um ser benigno e fundamental no apaziguamento do destempero do inverno. A sua essência encarnava nos pilares sagrados e era despertada a cada cerimónia religiosa e na espuma da cerveja - a bebida ritual de eleição. 





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