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Da terra das bruxas, parti com o riso de Baubo

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Em pleno dia, sob a força do calor do Sol, surgi de surpresa, a sacudir a letargia da rotina do Terreiro das Bruxas. A povoação da freguesia da Moita, no concelho de Sabugal, cruzou o meu caminho em direção à misteriosa Sortelha, terra dos lagartixos, onde se partilha a lenda da Dona Lopa. Mais uma versão, entre muitas, de mulheres do Outro Mundo persistentes  em afrontar os ditames do Cristianismo que as flagelou em superstições. Dona Lopa está na mesma linha da Dama de Pé de Cabra, uma lenda arcaizante de recordações de glória feminina, sem diferenças, nem subjugação. Héteras que o entendimento puritano escarneceu com promiscuidade e incompreensão do poder transfigurador da sexualidade.  Naquele cruzamento, outrora conciliábulo de mulheres de poder, restam memórias amedrontadas por manifestações de espectros que penetraram no subconsciente dos seus habitantes como meros sugadores de vitalidade. Naquele lugar de festim extático, Hécate fora evocada às horas abertas, patrocinando vo

Do Monte Santo ao templo de Vénus

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Vista dos Penedos de Monsanto A saltar de penedo em penedo, qual cabra-montês, cortei as nuvens em voos xamânicos em busca do luar, cujas sombras ocultam histórias arcaicas e de ligações afectuosas a divindades outrora poderosas, mas subjugadas por sucessivos cruzeiros de pedra rude. Do alto do Monte Santo, onde resiste um castelo dos templários, avistei a capela de São Pedro de Vir a Corça, que por ação misteriosa, o seu alcance por via pedestre me foi dificultado. Uma mão invisível insistiu guiar-me para as portas do Chão do Touro. Animal lunisolar e emblema sagrado da Deusa nascida do imaginário do Homem primitivo e resistente nos rituais do Mundo Antigo. Não estou certa da eficácia do touro em fazer cair dos céus as águas seminais características aos cultos taurinos, pois as bocas das terras por onde andei estavam sequiosas e gretadas - o meu coração partiu-se ao ver o rio Ponsul transformado em lodo seco. A bela e mágica Egitânia (atual Idanha-a-Velha) mantém-se firme e par

As várias facetas da Páscoa

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Do hebraico pesakh , «passagem», pelo latim vulgar pascŭa- , «pastagem», pelo latim eclesiástico Pascha- , «Páscoa», in Infopédia Ora, a Páscoa assinala o êxodo dos Judeus do Egito. Essa passagem simbólica da escravatura para a libertação, que, depois, é assimilada no calendário litúrgico do Cristianismo como  marco da ressurreição de Cristo, ou seja, da sua passagem de mortal para a condição divina. E que tipo de passagem fazem os seguidores de tradições, cujo sentido varreu-se da memória, por efeito da deterioração dos valores, da consciência de seres também sujeitos a transformação??!!! O compasso entra pelas casas a dentro, com o crucifixo em bronze - metal dos antigos adoradores das virtudes solares - em busca do beijo redentor, orientado pelos aromas frescos das primeiras flores da primavera. Um conjunto de símbolos que nos remetem para tradições pré-cristãs, que nos lembravam ser tempo de abrir as portas e as janelas aos abraços do Sol primaveril, fecundante e viril

Da árvore nasci e para ela a minha alma regressará

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Da semente nasci e fiz-me mulher, de belo tronco e verdejante folhagem. Tornei-me uma árvore, cuja sombra embala o sono do sonhador e o faz viajar pelo Cosmo. Do meu tronco desponta saboroso musgo que alimenta o veado e com ele danço em torno das fogueiras de Beltaine. As aves acariciam-me os cabelos e elevam-me a o ar. Viajo como o xamã por entre os mundos e comunico com os espíritos. A minha vida é rica e plena. Sou, pois, uma bela árvore! Numa das mais belas traduções da estrofe 19 da Völuspa, compreendemos a grandeza espiritual da árvore sagrada dos nórdicos: Yggdrasil. Árvore Cósmica que podemos ver representada em cada Freixo que encontramos no bosque, símbolo de imortalidade e de ancestralidade, dotado de uma pujança magnânime que arrebata os espíritos ávidos pelo êxtase. É a força e a coragem que, por exemplo, nos inspira o Freixo do Rei visigodo Wamba, que reinou na Egitânia (atual Idanha-a-Velha) e reorganizou o território e enfrentou as invasões dos mouros! Escolhido

Viva Cíbele, viva abril de Afrodite

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Vivenciamos os dias consagrados a Cibele. A ela, à deusa guerreira e Mãe dos Deuses, os antigos romanos entregavam-se a aguerridass corridas de cavalo, e ofertavam-lhe presentes. O que oferecemos agora a qualquer das facetas da Deusa? Nada!!! Durante a Megalesia, Cibele despontava a sua grandeza e inspirava os homens (porque se tratava de uma sociedade patriacal) a desafiarem as suas capacidades físicas e emocionais, pois sabiam que honravam a sua existência, honrando a Deusa. Ela conduzia uma quadriga de leões, tal como o arcano do Tarot, a Força, domina os instintos com a suavidade da inteligência, matizada com a influência da sensualidade. Eram tempos de competitvidade, de testoterona, de machos no pico da fecundidade. O festival durava sete dias (termina ndo no atual dia 10 de a bril) e celebrava a chegada de Cíbele a Roma. A estátua da deusa frígia, feita a partir de um meteorito - tal como a pedra negra venerada pelo universo muçulmano em Meca - entrava na capital

Gosto do que nos diz o cavalo

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A cada 30 de março assinala-se o início da metade do mês rúnico, sob a égide da runa Ehwaz, "cavalo". O cavalo é o animal simbólico da camaradagem, fidelidade, da união e em torno dele criaram-se ritos de fertilidade. É, pois, um excelente momento para fomentarmos as nossas relações com os outros, refletirmos sobre a qualidade dessas interações sociais, em que moldes se estabelecem e evoluem. É importante saltar para o lado de fora do círculo que circunscreve essa relação, de modo a filtrar fatores que nos conduzem à perda da nossa indivualidade, do nosso sentido de Ser e até que ponto nos levam a abdicar cegamente de projetos, perspetivas que preencheram a nossa consciência e promoveram e deram coerência á nossa vida.  A ânsia por colmatar vazios emocionais tem, muitas vezes, o efeito entorpecente dos tóxicos químicos que nos precipitam para a dependência do outro, para a aniquilação do que somos. Todos têm o direito de irr a diar a sua luz própria e não andarmos todos

O retorno da Deusa no dia da Anunciação

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Festa da anunciação, 25 de março, dia em que o arcanjo Gabriel desceu ao mundo dos Homens  para "fecundar", por via do Verbo, Maria com a semente de Deus, que nasceria dentro de nove meses, precisamente a 25 de dezembro - outra data especial no calendário de Outros Tempos. O deste dia é um marco primordial para as convicções cristãs, que para prevalecer por entre um arraigado culto banido, mascarou-se com o significado da maternidade divina, poucos dias depois do equinócio da primavera. Hoje, celebra-se, com menos pompa e circunstância, o Retorno da Deusa, montada no seu felino ou nos alvos gansos, a soprar do seu corno a abundância pelos solos que começam a regenerar-se do frio. Ela traz também no seu ventre o filho que tornará a primavera na estação germinativa.   Se é tempo de celebrar o mistério da Encarnação, que conferiu à Virgem o estatuto de "Mãe de Deus", também é o de saudar a portadora da energia crescente da luz e da vida. O seu espírito, outr

Hoje, falo da Mãe esquecida

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Ao segundo dia de março, mês dedicado a Marte, divindade romana, originalmente, protetora da agricultura, antes de personificar as forças marciais, apeteceu-me pegar e sentir a terra. Gosto do cheiro dessa massa negra,salpicada de granulos de vida e habitada por bactérias benfazejas que operam o milagre do brotar! Gosto também de me fundir aos elementos da Natureza e aos sentidos. Gosto de entrar no útero de uma Mãe em constante alerta e dedicação, e se revolta face aos maus tratos dos seus filhos. Gosto de imaginar o leite a esguichar dos seus mamilos - por isso achei graça à tradição das mães nómadas da Mongólia em limpar o rosto e as remelas dos bebés com o seu próprio leite- e de beber esse líquido reparador e vital. Só imagino...mas também não serei um bom exemplo para falar desses tempos de vinculação à figura materna, pois maltratei os mamilos da minha mãe...não sei, acho que fui tomada por um precoce impulso para a independência, para a liberdade, para a evasão...Talvez por is

Tenham a coragem de Tyr

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"Quem quiser crescer tem de ir à procurar do lugar e das pessoas entre as quais as suas qualidades possam ser estimuladas e postas à prova, tem de abandonar a sua casa, os seus hábitos e ir para onde se inventa o novo, onde tudo é possível. Mas para isso é preciso uma grande coragem, uma energia incomensurável", sugere Francesco Alberoni no seu livro Tenham Coragem. Vem isto a propósito ao ouvir os Wardruna, no tema dedicado a Tyr, o deus maneta dos povos germânicos, cujo mitologema está totalmente ensopado de alusões ao espírito intrépido, ao convite audaz de superação dos limites inerciais. É Tyr a personificação da audácia, ao sacrificar a sua mão direita nas fauces do lobo-gigante Fenrir, em prol da ordem cósmica, pelo menos até ao Ragnarok - o ponto de rutura, de degradação de um hierarquia não apenas de deuses, mas também da própria humanidade. Tyr não se incomodou pela sua deficiência física, pois a sua convicção em que todo o sacrifício existe um bem maior e libert