Midvintersblót




Passaram-se vinte dias após o Yule, é tempo de erguer os cornos de hidromel no Midvintersblót. O Velho Carvalho emana a sua força e emite mensagens do deus do Céu. Consagrado pela Velha Inglaterra a Tiw/Tyr/Ziu, celebra-se neste dia o culminar da metade do ano mergulhado nas trevas do inverno e antecipa-se o retorno vitorioso da luz, da fertilidade e das temperaturas cálidas com a chegada de Ostara. O Midvintersblót (blót do verbo blóta: cultuar uma divindade por meio de um sacrifício) reaviva as forças benéficas, sendo a sequência final e complementar do ritual a Frey no início do Jól/Jul, cuja data fora ajustada ao calendário cristão por Hákon o Bom. Em 960, este rei da Noruega proclamou a lei que fixou a celebração do Jul a 25 de dezembro para que coincidisse com a festividade cristã do Natal, antecipando um mês uma festividade que se iniciava a 14 de dezembro e culminava em meados de Janeiro. No antigo calendário inglês, o Tiugunde, festeja-se a regência do ano pelo deus Tiw; e para os nórdicos, era a ocasião solene do encerramento do período de celebração do Jól/Jul. O historiador Olav Bǿ afirma que os sacrifícios de Jul, antes da conversão ao Cristianismo, seriam oficiados na noite de 12 de janeiro, na prática, no começo do dia seguinte. (O dia começava sempre na noite anterior; ou seja era a Lua que decretava a contagem do tempo e dos meses). A Heimskingla revela que a noite da Plenitude do inverno, ou Jól pagão, acontecia precisamente nesse dia, que na Escócia medieval considerava como o último do ano. 

O festival da maturidade do inverno, o Midvintersblót, tinha como propriedade mágica apelar à generosidade das forças reprodutivas da terra prestes a despertarem da letargia. Do mesmo modo que o sangue sacrificial (hlaut) servia para erradicar as influências destrutivas que castravam a fecundidade, neste blót evoca-se o poder triunfante do deus que dominou as forças do caos, simbolizado pelo lobo-gigante Fenris. Tiw encarna o poder da ordem, da justiça e do triunfo; e foi graças ao seu auto-sacrifício, no qual perdeu a mão direita, que se repôs a estabilidade e a harmonia até ao Ragnarök. No plano mundano, durante o Jöl, as casas eram limpas e esmerados os trabalhos domésticos como medida preventiva face a qualquer sinal de distúrbio, os trabalhos de fiação suspensos no interstício da paragem da roda universal; no exterior uivava, durante doze noites (terminava a 6 de janeiro), a horda furiosa do Caçador Selvagem, ansiosa por espalhar a confusão, o terror, as pragas com o propósito de destruir qualquer hipótese de regeneração da vegetação. 
O Midvintersblót criava o ambiente capaz de contrariar e sarar toda aquela tendência caótica do inverno. Nesta época, as oblações tinham o propósito de atrair boas safras, evitando não comprometer o regresso da vida que se avizinha no nascer da estação luminosa: a Primavera.

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