Ritual de integração



(Os chuviscos) são as lágrimas das nuvens,
que fazem diminuir a superfície gelada
que o pastor odeia.
(Poema Islandês Antigo)



  Nove dias depois do filho/neto do chefe do clã ter nascido é tempo de lhe atribuir um nome. Agora que sua alma está praticamente  integrada, a criança é consagrada como novo elemento da  comunidade durante um rito de integração, o ausa vatni. Sobre ela é aspergida três vezes água e de seguida o sinal do martelo de Thor - uma cruz invertida - com o punho, invocando o poder protetor do Deus Trovão e guardião da Terra e dos homens. A criança recebe então o seu nome e é acolhido no clã. Desde esse momento, uma alma habita um novo corpo e o seu destino inscrito no weird, pronunciado por Urd no seu nascimento, começa a revelar-se.
A água é o elemento que oficializa o novo membro da família e da comunidade. O ritual de entrada termina com a plantação de uma árvore, que será para sempre a memória desse dia e uma referência sólida na construção da personalidade do indivíduo. 
Se a criança apresentasse uma deformação - úborin börn o não aceite - seria abandonada ao relento da noite e dos ataques dos animais notívagos até que morresse. Era ao homem quem cabia a missão de decidir a vida ou a morte da criança, e só ele poderia reconhecê-lo como seu filho, erguendo-o no ar e assim demonstrando a todos que o admite como sendo fruto da sua semente.
A lembrança dos ancestrais estava tão enraizada na sociedade escandinava que se escolhia o nome de alguém muito admirado pela família. Assegurava-se, assim, que as características desse antepassado, em especial o seu espírito regressariam do Cosmo.
O ausa vatni contém a mesma ação como os chuvisco de Uruz sobre o gelo: faz surgir uma nova entidade, impregnando-a de vida, assim como as gotículas de água do céu descobrem a superfície do jugo do gelo, permitindo que a vida dos solos germine. 

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