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A mostrar mensagens de 2015

À procura da comunidade

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Há qualquer coisa em mim que é ativada por esta altura do Natal e me faz mergulhar numa estranha nostalgia, por vezes, até causando-me aversão. Talvez haja uma explicação freudiana para isto (quem sabe???!!!). Mas não. Uma conversa fugaz, na bancada do Estádio do Bessa, no último sábado de novembro, com a minha estimada colega Cláudia Martins (uma voz feminina no futebol!!!), corroborou o meu sentimento de desprezo por uma sociedade sem espinha vertical, de servilismo e desprovida de integridade. Para quê falar de partilha, num bla-bla-bla de boca para fora, quando, na realidade, a esmagadora maioria não sente, nem sequer conhece a verdadeira essência das correntes de troca entre indivíduos. A Cláudia é uma das minhas: daquelas que não se importa de dar o peito às balas em defesa do grupo, mostrar carácter de liderança, servir de inspiração e exigir o melhor para todos os elementos. Não julguem que tal postura procura a superioridade, pelo contrário, é precisamente a correta definição

É o tempo das Bacantes

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Este é um bom dia para resgatar das camadas de poeira  o divino Falo. E porquê? Simplesmente, porque era a 23 de outubro que tinham lugar as festas em honra de Baco, esse deus amaldiçoado pelo "pecado" pelas mentes puritanas que decidiram esconder a "árvore do prazer" por debaixo do manto da luxuriante folhagem do pudor. Demos vivas, pois ao sagrado Senhor, que nas mãos das mulheres não apenas cresce em vigor como é a partir delas que a sua existência faz sentido. É tempo de abolir a falocracia que transformou o pénis num instrumento de poder castrador, como que se pudesse subsistir sozinho em auto-delícias egoístas. Nós, as mulheres, temos uma vigorosa palavra a dizer a esse respeito. Porque era atiçado nas mãos das mulheres da antiguidade, em desfiles lascivos catalisadores das forças reprodutivas da Natureza. As bacantes semi-nuas subiam ao alto das colinas, de tirso na mão para que a personificação de Baco não esmorecesse na estação fria e de intensa sombra

Pelas pedras de Gaia

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Afloramento do Canidelo A dois dias do equinócio de outono, uma voz ressoou no interior do meu cérebro pedindo-me gentilmente para se apresentar por entre penedos banhados pelas águas do mar. A brisa que me seduzira a sair de casa, orientou-me ao volante em direção ao outro lado do Douro, ao corte líquido que me faria embrenhar na neblina de Albion na demanda da  lenda da Bicha Moura. Atravessei o rio, cujas margens Dalila Pereira da Costa decifrou os seus mistérios, e do outro lado, fui ao encontro de memórias residuais em rochedos discretos, aconchego dos que aproveitavam o restinho de calor estival. A primeira etapa: praia de Lavadores. No horizonte vislumbrei recortes fálicos entumecidos, como que armazéns da espuma seminal de Urano, pai da alquímica Afrodite, outros arredondados como peitos de lactantes, que me acenavam em gesto convidativo para uma dança fecundante. Foi então que me apercebi da força granítica que embeleza as paisagens de Gaia. A superstição e os cultos

Vamos seguir a "nossa" estrela

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Insculturas rupestres da Fechadura Durante as minhas férias, no retorno a Pedrogão Grande (ao coração do nosso tão belo Pinhal Interior!!!!) tive notícias de umas "estrelas" lá para as bandas da Fechadura, na rota dos pastores - cuja memória foi resgatada pela município da Sertã -, insculpidas no xisto. Do seu significado, sob o ponto de vista arqueológico, nada se sabe, aqueles riscos na pedra nada dizem aos académicos que por lá puseram os seus olhos. Os pentagramas que o homem primitivo cravou no "pergaminho" pétreo não passam disso mesmo: de símbolos de contexto desconhecido. De súbito, como que a rasgar-me o cérebro, surge-me à ideia o belo e rico trabalho de pesquisa de Fábio Silva, o arqueólogo português (que tive o privilégio de conhecer e de manter na minha lista de pessoas altamente recomendáveis) que descobriu a origem pré-histórica do nome da Serra da Estrela. Fábio aplicou os instrumentos da arqueoastronomia para entender as razões por que as cons

Vislumbrar a Deusa

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O castigo de Diana pelo atrevimento de Acteão é uma bela parábola sobre o momento certo da revelação. A deusa romana da caça não transformou o filho de Cadmo em veado apenas por ser acérrima defensora da sua virgindade. Acteão seduzido pela beleza de Diana, enquanto a deusa convivia no seu gineceu com as Ninfas, atreveu-se a espreitá-la enquanto tomava banho, purificando-se nas águas. A ousadia de Acteão faz-me lembrar a pressa de alguns indivíduos em atalharem uma série de etapas evolutivas, necessárias aos seu amadurecimento emocional e mental. A deusa lunar, de natureza pura, oculta um significado esotérico muito interessante: a iniciação nos mistérios femininos, como primeira via de crescimento. A cobiça de cariz sexual, como aconteceu com os impulsos de Acteão, rompeu véus importantes que se vão desvelando à medida em que vamos interiorizando o significado da Deusa como porta de acesso aos domínios mais profundos de nós mesmos, na demanda pela emancipação como entidade espiritua

Serra do Pilar: um axis mundi oculto

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A igreja da Serra do Pilar, às portas de Vila Nova de Gaia, alberga um simbolismo extraordinário relacionado com o Sol. Além de se tratar de um edifício único, pela construção circular do altar, porque os monges agostinhos "queriam estar mais próximos de Deus", é um lugar onde experimentamos a magia da geometria e da arquitetura sagradas. A Ordem de São Agostinho deixou impressas várias notas simbólicas desgastadas pelo esquecimento e pelo rigor espartano militar (a igreja atualmente está sob custódia do quartel do exército da Serra do Pilar, cabendo à direção regional a exploração turística) que fez desaparecer o jardim, cuja configuração nos poderia da r mais pistas sobre a dedicação ao Sol, como personificação de Deus. O ideal uma "só alma e um só coração orientados para Deus" e "amor da unidade e a unidade do amor" deu forma a um templo de grandeza aproximada a pequena escala das pirâmides do Egito, às contruções megalítcas do Neolítico e

Junho ao ritmo de Freya

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Junho é o sexto mês do calendário gregoriano e o primeiro do verão. É uma espécie de "porta do ano" que se abre à descoberta sob intensa vibração feminina , com a romana Juno, contraparte da escandinava Frigga, a deixar cair a túnica que lhe ocultou e protegeu o corpo durante o frio do inverno. A libertação da sensualidade feminina iniciou-se na madrugada de 1 de maio, no culminar de uma noite que teve tanto de turbulenta como de deleites sensoriais, no apelo à magia da sexualidade. Em Valpurgias desperta-se o encanto dos corpos que se entregam ao sorriso da razão da sua existência, recordando os "vestidos de céu", em que as estrelas disfarçam as partes pudendas e convidam ao saber estar sem presença de pecado. O Sol convida-nos ao bailado desnudado da Grande Mãe que mostra os seus seios pejados de saboroso leite e as suas roliças coxas. O instinto materno da progenitora tornada infame e proscrita resiste nos recessos da lembrança de mulheres independen

Um pequeno exercício rúnico

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 Para quem já experimentou as Posturas Rúnicas, ou para quem quiser experimentar, segue uma sugestão de invocação dos quatro quadrantes segundo os mundos cósmicos suspensos em Yggdrasil: Iniciar com a postura da Runa Fehu CENTRO Sobre Midgard vivemos E caminhamos até ao nosso destino. Do corpo do Gigante Ymir,   Sacrificado pela tríade divina, Extraímos os alimentos. Nas rochas e montanhas Sentimos a consistência dos seus ossos E nas florestas, odor dos seus cabelos. Midgard! É a maior das bênçãos Que os deuses criaram Como berço do primeiro do casal humano Ask e Embla Prosseguir com a postura da Runa Algiz NORTE HAIL!HAIL! HELHEIM Morada das sombras e dos mortos Albergue das memórias atávicas, Onde Hel reina na outra margem do rio Gjoll, Resguardando os espíritos dos antepassados, E recebe as águas regenerativas do caldeirão primo

O Rosto por detrás da obra: as portas abrem-se!!!

https://www.youtube.com/watch?v=-uJNdevpjNk&feature=youtu.be

Em abril desabrocha a flor do coração

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Abril, mês de abertura. A terra abre as suas entranhas para receber a semente, as flores espreguiçam as pétalas e erguem-se do sono do inverno. Na Roma antiga, Afrodite regia o quarto período do ano; entre os Anglo-Saxões era a entrada em  Eastermonath, mês da deusa Eostre, da qual resulta o inglês Easter (Páscoa) e conhecemos sob o nome de Ostara, venerada pela comunidade Asatru. Perderam-se os rastos das festas a Ela dedicadas, resta a lembrança sua existência no seio de vários braços étnicos germânicos. A etimologia de Ostara virá do Proto-Germânico Austro, também uma deusa, e a sua regência era assinala com ovos decorados e lebres, animais lunares que regressam das tocas como arautos da luz que se aproxima da vitória. Austro soa idêntico a Austri, o leste no dialeto antigo escandinavo. O Sol regressa da tumba empoleirado nas costas das altas montanhas, cujo tapete branco de pura neve cede, lentamente, num combate sereno de resistência do Senhor Inverno. O austero rei do frio va

A outra Cinderela

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Estavam ainda os deuses a festejar a morte do perturbador gigante Thjazi, na sequência do resgate da deusa da juventude, Iduna, raptada por um dos génios do gelo, quando entra no salão o anúncio de uma visita inesperada, que estragou logo a folia. Skadi irrompe pela festa, com cara de poucos amigos, de armadura e de arma em punho prontinha para vingar a morte do seu pai. Face este cenário, o bom-senso recomendou aos deuses que fossem pacientes e dialogantes, de modo a que a furiosa mulher das montanhas ruidosas não perdesse a cabeça e desatasse  a cortar cabeças. A estratégia funcionou e acabaram por convence-la a aceitar algumas compensações simbólica em vez de começar uma guerra por vingança. A indeminização seria feita em três partes. Na p rimeira, Ódin lançou os olhos de Thjazi  para o céu noturno para aí se fixarem como duas estrelas. Crê-se que se tratam de Castor e Pólux, que correspondem às "cabeças" da constelação de Gémeos. A segunda apresentava-se, teorica