Sleipnir: Veículo das Viagens Extáticas

O
xamã monta o seu tambor, como Odin o seu cavalo Sleipnir. Ambos se fundem na
sua montada selvagem e, em simultâneo, libertam-se das limitações
espaço-temporais, voando pelas dimensões espirituais, formando uma só entidade
inseparáveis na viagem de descoberta dos Mistérios Ancestrais. O Deus Supremo
nórdico aparece representado numa estela unido ao seu cavalo otópode e entre
as duas patas enrosca-se em leminiscata uma serpente - animal solidário aos
poderes mágico-religiosos do Inferno e da transformação. O cavalo e a serpente
são utilizados nas viagens extáticas na descida à residência dos mortos. Nesta
representação lítica, Odin celebra o seu estatuto de xamã. Erguendo o corno
cheio de hidromel é saudado pelas Valkyrjar no Valhalla, paraíso das Almas dos
Guerreiros Imortais. É o cavalo que conduz as Almas ao Outro Mundo e é o tambor
que transporta o xamã para a Realidade dos Espíritos. Na mitologia nórdica, as
Valkyrjar são as psico-mensageiras de Odin, que carregam, nos seus cavalos
brancos, a alma dos heróis escolhidos para viverem eternamente nas
delícias do Valhalla. Num ritmo compassado, o xamã evoca com o seu tambor
cerimonial os espíritos, a memória dos Antepassados Míticos, deixando o Mundo
Profano para se tornar também ele um “morto”! Estelas rúnicas encontradas na
Escandinávia provam a função funerária de Sleipnir, que transporta no seu dorso
um corpo inerte de um guerreiro.
Sleipnir
é companheiro do vento que beija a terra, abraça o ar e agita as águas, o seu
corpo cinzento mostra que ele se move entre a luz e as trevas, o Mundo Superior
e o Mundo Inferior, aglutinando a ambivalência da natureza do xamã. Pois,
também ele se orienta pelos dois polos cósmicos, sem, contudo, pertencer a
nenhum deles. Composto de partes iguais de preto e branco, o cinzento equivale
ao centro do campo de forças opostas. Sleipnir expressa o equilíbrio entre
polaridades antagónicas, sendo o ponto por onde Odin penetra nas dimensões suprassensíveis. Ao ressoar o tambor, o xamã incorpora-se no centro de tudo,
libertando-se de si mesmo para se integrar no esquema da grande ordem
Universal!
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