Landvaettir: Guardiães do território

Em todos os lugares existem os seus guardiães, espíritos protetores que preservam a memória arcaica desse espaço físico e também antropológico. A sociedade tecnológica evoluiu, oferecendo a ser humano outras vias de conforto, na maioria dos casos, um estado emocional artificial, um placebo de prazer do qual resulta muito pouco de positivo para o real conforto. Cortaram-se vínculos importantíssimos com a anima loci e perdeu-se, assim, um apoio maravilhoso para a sanidade física, mental e emocional dos indivíduos. A "alma" do lugar ainda pulsa sob muitos nomes, assumindo diversas formas, à espera que a despertem. Em Portugal, a serpente é o animal totémico de excelência, é a nossa guardiã, tesouro de rituais ofídicos, que protegia este território à beira-mar plantado. Na linguagem dos povos do Norte, os espíritos protetores de uma determinada região eram chamados de landvaettir. Estes seres fantásticos eram imaginados colocados em zonas altas, sobranceiras ao mar, de modo a que  controlassem a aproximação do perigo.

Os barcos que se abeirassem da costa com missões pacificas deveriam retirar as cabeças de dragão na proa para não ofender ou provocar os landvaettir. Atribuíam a estes espíritos protetores imenso poder, que se atualizava à medida que os honravam e faziam sentir que a sua existência era real. Esse lugar, onde reinariam, pode ser interpretado como contendo uma anima loci, um ponto geomântico, equivalente a muitos que ainda preservam a sua forma sobrenatural em locais específicos na Natureza. A importância dos landvaettir estava muito enraizada na consciência espiritual dos povos do Norte, tanto na Islândia uma das primeiras leis a ser promulgada no Althing foi proibir que as embarcações se aproximassem da costa com as cabeças de dragão na proa.

Existe uma lenda acerca do rei Harald, Dente Azul (conhecido também por construir um burgo circular com as casas dispostas de maneira a que as vias de acesso recriassem uma enorme cruz cristã) enviou um bruxo à Islândia com a missão de observar as condições para preparar uma invasão. O bruxo, porém, deparou-se com os landvaettir em posição defensiva: um dragão, um touro, uma águia e um gigante revelaram todo o seu  poder em cada ponto cardeal, mostrando que não haveria uma zona frágil. O bruxo relatou o que viu e avisou que era melhor desistir da invasão. Desde então, os quatro seres sobrenaturais parecem no emblema da Islândia - tal como a nossa serpente, um dia, também fez parte da heráldica portuguesa.

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