Jormungandr: a simbologia da Imortalidade




Jormungandr, a Grande Serpente, sustentáculo do equilíbrio dos Mundos, "gémea" de Thor, deus Trovão e mestre da cobra-relâmpago, é o paradigma supremo da devoção dos povos do Norte na força serpentina. O ofídio gigante e a sua dualidade como agente estruturante e agente do caos embrenhou-se na consciência como fascínio da Imortalidade e do poder.  Os líderes comandavam os seus exércitos sob o signo do dragão-serpente e da águia. Uma hipotética representação em bronze de Sigmund- outra versão de Sigurd - vestindo uma pele de lobo a dominar uma serpente, atesta a simbiose entre as forças guerreiras e ofídias. A força das lâminas das espadas igualava-se ao poder do dragão, o mesmo será dizer, à morte, ao domínio sobre os outros. Os guerreiros exibiam, assim, o orgulho de possuírem o poder subjacente à origem do Mundo e a total superação do medo da morte. A mesma força granítica sobre a qual se formou a vibração da cidade do Porto, cujo emblema heráldico é um dragão - uma herança esquecida de Ofiusa, a Terra das Serpentes, que se tornou Portugal.

Totem de excelência nos ritos iniciáticos dos antigos guerreiros germânicos, a serpente-dragão era representada com duas cabeças geminadas, insuflando a sua energia transmutadora e imortal. De corpos desnudados, com duas lanças nas mãos, o futuro guerreiro atirava-se na noite numa dança frenética, como a preparar o campo de batalha a seu favor. Os Vândalos entregavam-se ao seu dragão voador; os Lombardos veneravam a víbora dourada como entidades divinas que os  acompanhavam e protegiam nos combates

Os barcos-dragão, drakkars, exibiam a pujança de um povo que dominou o receio da ameaça monstruosa que habitava nas profundezas do oceano, coabitando com a dimensão dos Mortos – os grandes líderes eram cremados em barcos-pira, posteriormente lançados ao mar, para a sua última residência. Esta relação demonstrava a confiança plena de que o perigo da Grande Serpente fora aplacado. A certeza de que venceram a fragilidade da carne fundeava-se numa causa maior: na Imortalidade. A derradeira etapa do ciclo de transformação. A missão exata de um guerreiro germânico! Embora relacionado com a serpente, o dragão beneficiava de um papel mais complexo. Inspirava muito mais terror do que a serpente, pois exigia mais esforço e astúcia para ser derrotado. Como as serpentes, vivia sob a terra, junto aos túmulos funerários da Idade do Bronze ou na sombra das cavernas de pequenas colinas. Ele era a criatura antiga que voava na noite. O sol era seu inimigo, vivendo apenas da luz que cintilava de tesouros magníficos escondidos nos recessos da escuridão de um Espírito à espera do Despertar. O seu Conquistador teria de estar liberto da avidez material para se poupar às consequências de um tesouro maldito.  

A serpente rege esta fase do ano, altura em a escuridão reina nos céus e anuncia o frio, o pousio, o tempo de preparação dos solos para poderem receber os raios solares e a chuva fertilizante de Thor no despontar da luz. A serpente era o garante da fertilidade enquanto prevalecia o inverno, cujo domínio persistia em manter, sendo contrariada numa luta titânica com Thor - o seu mais acérrimo perseguidor. A simbologia transformadora da serpente também garantia a imortalidade dos ciclos produtivos.









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