Isa e a aprendizagem da paralisia

A partir do dia 28 de novembro, estaremos sob a regência de Isa, a runa do gelo, da força estática. Falar de força num período de paralisia soa a paradoxo, já que se trata da faculdade de operar, agir ou mover-se. De certa forma, na inércia de Isa gera-se uma energia especial. Enquanto nos vemos atados obrigatoriamente a um momento, temos a possibilidade de escutar o interior. É um processo idêntico ao que acontece sobre um rio, ou um lago: só a superfície gela, deixando o fundo líquido e desobstruído, e gestante. A vida mantém-se, mesmo não entrando a luz exterior. O comando é precisamente anestesiar a nossa percepção aos estímulos externos e providenciar um estudo endógeno, de entendimento dos sinais que ecoam no interior e para os quais nem sempre temos ouvidos atentos.

Isa trava e desacelera com o objetivo de criarmos uma resistência, uma intensidade especial sobre os nossos alicerces. A camada de gelo tonar-se-á água na primavera e, por ação do calor, dela nascerá matéria. E tudo recomeça do caos, como no princípio dos Tempos. Niflheim, o mundo cósmico do gelo, só tem sentido porque existe Muspelheim, o mundo cósmico do fogo. E do cruzamento das massas de ambos, do vazio manifesta-se a vida. 

A lentidão do tempo em Isa, reconheço, é brutal, doloroso e parece que nunca acaba. Mas é como as lições do mestre Saturno: para passar ao nível superior é preciso parar primeiro, arregimentar as forças, perceber onde estão os defeitos para os remover do caminho, e passar, depois, à ação, com toda a força que acumulamos. Estamos num período de Isa, que dura há demasiado tempo, até para mim está a ser insuportável, mas bem lá no fundo - no tal sítio onde os peixinhos do lago sobrevivem -  sei que tenho de esperar pelo estalar dos dedos que me fará avançar. 

Comentários

  1. De facto, faz lembrar os trânsitos de Saturno. Morosos, penosos, parece que nunca mais têm fim. Mas têm. A luz ao fundo do gigantesco túnel acaba sempre por chegar.

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    1. Demora, mas chega. Esta é a grande lição da runa Isa, que pertence aos domínios das leis universais do Orlog (destino)

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