Celebrar a Hamingja




A Hamingja simboliza a carga universal dos Antepassados Míticos de uma família, definindo o destino inerente aos seus descendentes numa linha sucessória a partir do nome e, em contrapartida, era o garante de sorte, saúde e prosperidade. Os apelidos parecem ser compostos de parábolas que simulam motivos míticos relacionados com determinadas faculdades de divindades que lhes servem de composição. Georges Dumezil mostra-nos isso na desmontagem das peculiaridades nominativas dos heróis exaltados nas Sagas de Saxo Grammaticus e de Snorri Sturloson - suportando-se nos trabalhos de Carl Wilheim von Sydow – ao considerar que os nomes carregam o simbolismo das lendas de epónimo de dinastias. A Hamingja será, pois, a síntese das características dos seres divinos escolhidos para matriz, assumindo a aparência específica – hamingja quer dizer a “que toma a forma” – de mulher pela sua função tutelar e maternal. É ela que assegura a segurança da família e nutre a partir da seu poder em fomentar o florescimento da família, curiosamente dentro da linha funcional dos Vanir. 

Cada indivíduo estaria susceptível à influência do poder misterioso e sobrenatural de uma entidade feminina e nutricional que beneficiava os indivíduos com os seus poderes especiais, tornando-se emblemas heráldicos eternos dos clãs. A força e pureza de uma linhagem sobrepunha-se a qualquer anseio dos povos nórdicos e germânicos, especialmente voltados para o orgulho da dedicação aos ancestrais, pelo que em todos rituais (blóts) impunha-se uma vaga especial à convocação do espírito guardião, cuja essência imbuía o conteúdo da cerveja fermentada na grande cupa e se intensificava pelo poder da palavra dos formalí - uma evocação que acompanhava todas as festividades após os sacrifícios para atrair boas influências e esconjurar pragas e feitiços (niding) -, estimulando a congregação dos membros do grupo vinculados por um antepassado comum numa comunhão eucarística com as divindades.

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