Volund: um espírito indómito

Enquanto se mantinha concentrado na sua vida, Volund foi produzindo peças de enorme beleza que suscitavam a cupidez de Nidud. O Senhor dos Niars
congeminou então um assalto à oficina de Volund, quando este se ausentara
para caçar, e roubou-lhe o anel da esposa. Ao voltar para casa, Volund apercebeu-se que faltava o tal anel e foi invadido
pela falsa alegria de ter de volta Allwhite, que ele pensara ter tomado a sua joia. Não
satisfeito com o ato perpetrado e pela mesquinha cobiça, Nidud acusou Volund de roubar ouro do seu reino para
justificar a indevida apropriação do anel, que depois ofereceu à filha Bodvild.
Devido ao seu alegado crime, Volund foi desterrado para a ilha de
Sævarstod, onde preparou um frio plano de vingança. Na primeira oportunidade decepou os dois
filhos de Nidud que, na têmpera do fogo e pela força do seu martelo,
transformou os crânios em taças de prata, dos seus olhos lapidou pedras preciosas que
enviou como presente à rainha. Dos dentes dos jovens fez dois broches
destinados a Bodvild. Esta partiu o anel roubado para ter um pretexto para
visitar e conquistar o exímio ferreiro, que ainda tomado de insustentável raiva,
deu-lhe a beber cerveja para que ficasse sonolenta e sem capacidade de resistência quando a violava. Volund não conseguia esquecer a imagem do anel de Allwhite
indevidamente no dedo da filha do indigno usurpador, que lhe tirara
também a sua espada. Sentindo-se vingado por todo o mal que lhe causaram,
Volund ergueu-se no ar com as asas que forjara durante o forçado exílio. Porque não satisfeito por prender
Volund e forçando-o a criar joias e armas, Nidud, indrominado pela esposa, mutilou-lhe os tendões dos tornozelos para que não pudesse fugir.
A história de Volund prova que a tortura, a usurpação da integridade e da liberdade muitas vezes conduzem à superação de quem está sob jugo. O poder autoritário, egoísta e muitas vezes invejoso do brilho que os outros emanam por se manterem fiéis a si-mesmo, pode funcionar como instrumento de aperfeiçoamento de um espírito selvagem, que se recusa a entregar-se ao statu quo. Porque há sempre alguém capaz de retirar das suas entranhas matéria para produzir as asas e que não seja um Ícaro.
No cárcere, Volund, a cada golpe de martelo, acurou o mister de ferreiro e elevou-se livre nos céus. É verdade que a vingança de Volund é violenta - e não foi violenta a injustiça a que o submeteram?
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