Iduna no resgate da nossa juventude

Ódin, Loki e Hoenir iam em viagem por Midgard (Terra) quando decidiram parar nas montanhas desoladas e distantes de Asgard para comerem qualquer coisa. Mas a comida era escassa nesta região inóspita, e assim que avistaram uma manada de bois, capturam um dos animais. Acenderam uma fogueira, e apesar do intenso fogo, a carne tardava cozinhar. Perplexos com a situação, os três Aesir ouviram uma voz que vinha do alto e ao olhar para cima viram uma grande águia empoleirada num ramo. "Sou eu", disse, "que, por artes mágicas, impeço a sua cozedura. Mas se me derem uma parte da vossa comida, então desfaço o feitiço". Os deuses, embora irritados, concordaram e a águia desceu para se apossar da carne mais saborosa do boi.

Loki entendeu que tal atitude estava para além dos termos do acordo e, com raiva, atirou com forte ramo em direção à águia, que o arrebatou com as garras, sem dar tempo a que o deus do fogo se libertasse e com ele voou alto no céu. Apavorado, Loki implorou que o libertasse, mas a águia - que era Thiazi, o gigante das montanhas ruidosas disfarçado - recusou-se a fazê-lo até que Loki jurasse levar-lhe Iduna e os seus pomos mágicos. À chegada a Asgard, Loki foi ter com Idun e disse-lhe que tinha encontrado frutos ainda mais maravilhosos do que as suas preciosas maçãs numa floresta para além das muralhas da residência celeste e que ela deveria segui-lo até lá, levando as suas próprias maçãs para fazer a comparação. Iduna  cai na armadilha e é raptada por Thiazi, outra vez metamorfoseado em águia, e é levada para a morada do gigante, Thrymheim, "Casa-Trovão", situada no mais alto dos picos das montanhas, cujas torres geladas ameaçavam os campos férteis em baixo. 


Na ausência de Iduna, os deuses começaram a envelhecer e ficaram alarmados, questionando quando é que Iduna foi vista pela última vez e alguém relatou que tinha sido vista na companhia de Loki. Os deuses reuniram-se e pressionaram Loki para que lhes dissesse o fim que dera à guardiã das maçãs da eterna juventude. Loki confessou o mal que fizera e sobre ele recaiu a ameaça de que se não resgatasse Iduna estaria condenado à morte.

Freya emprestou-lhe o manto de penas de falcão que agilizou o voo de Loki até
Jotunheim, o mundo dos gigantes do frio, onde estava localizado Thrymheim. Feliz coincidência: Thiasi tinha para o mar pescar, deixando Iduna sozinha. Sem perder tempo, Loki transformou a deusa num fruto seco que contém semente (tanto pode ser avelã, noz ou castanha) para que a pudesse transportar nas garras de falcão. Thiazi não gostou, naturalmente, de perder a deusa da vida e voltou à forma de águia, cujas enormes asas agitou com tamanha violência para tentar alcançar Loki. Ao perceberem a aproximação do furioso gigante, os deuses fizeram uma pilha de gravetos em torno da fortaleza de Asgard, dando tempo para que Loki atravessasse a barreira. Depois, os deuses atearam o fogo e as chamas atingiram Thjazi.  

A história do rapto de Iduna é muito semelhante ao de Perséfone pelo deus do submundo.  Iduna simboliza a capacidade de regeneração da natureza e aporta ainda um importante significado psicológico. Ela regressa do palácio do inverno, Thrymheim, como semente, o embrião de vida latente, sendo a origem de um novo começo. As maças de Iduna ou das Hespérides representam a imortalidade, bem como o ciclo contínuo de renovação como frutos da Árvore da Vida. Iduna é resgatada por Loki, divindade de natureza ígnea que na zoomorfia de falcão, personifica os poderes solares, encarnados por Freya que é quem empresta o seu disfarce.  

Thiazi é personificação das forças atmosféricas que castram as forças produtivas da terra, que estão simbolizadas no boi que os deuses tentam cozinhar e não conseguem. Thiazi é desafiado por Loki, num duelo entre a água (gigante) e o fogo (Loki), sendo inverno a vitória é do gigante (águia); mas no retorno de Iduna a Asgard é derrubada pela fogueira (verão) que derrete o gelo e evapora da superfície terrestre os charcos de chuva intensa.

Nesta história descortinamos pistas auxiliares para o período mais escuro da nossa existência. A promessa do regresso da vida é uma certeza e que sobre qualquer desordem é possível edificar fortes alicerces. Haverá sempre uma maçã que nos revelará o conhecimento de nós mesmos, mas para a alcançar temos sempre de mergulhar na perturbação, vencer a solidão ou o medo. Iduna estava longe do reino celeste, mas por pouco tempo: porque a importância da vida faz-nos levantar das cinzas e regressar à felicidade. Juntos, os deuses investiram tudo para libertar a vida do cativeiro!!!!!!

Os deuses rejuvenesceram com a volta de Iduna. Basta descobrir qual é a nossa Iduna para que aconteça o mesmo connosco. Iduna é retratada em estado de eterna adolescência, nos primórdios em que o nosso corpo é mais vigoroso e a nossa mente está pejada de sonhos, de projetos e em que não há barreiras, mas um infinito universo de possibilidades. A "nossa" Iduna está aí, nesse ponto em que a imaginação derrubava o aço.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

A serpente, a pedra e a moura encantada

Da terra das bruxas, parti com o riso de Baubo

Hoje, falo da Mãe esquecida