Saudemos Feoh: a runa de junho

Feoh/fehu carrega o forte significado dos raios solares sobre os solos que se vão sarando das feridas causadas pelos rigores do inverno. Esta runa tem o mesmo poder curativo e multiplicador do Sol e está sob regência de Frey. Divindade itifálica cujo longo pénis simboliza a ação penetrante da espada gloriosa do herói quando aniquila os seus inimigos. Símbolo de luz, claridade, vigor e poder, a espada era um dos objetos hieratizados de Frey e usada como dote de casamento com Gerda. A espada de Frey era pequena, semelhante a um gládio, uma versão de heliofania que consagra o hierós gamós do ritual de fertilidade. Gerda, a terra arável e recetiva à fecundação da divindade solar, é descrita por Snorri como sendo uma mulher-gigante de cujas mãos emanava um brilho de luz pulsante aos olhos encantados de Frey.
Gerda e o deus dos raios solares atualizam este rito de união todos anos, por esta altura, para potenciar e enriquecer a vida orgânica e humana. O crescimento e o progresso fazem parte do processo de renovação, isto implica dinamismo, movimento, circulação, do mesmo modo que o Sol nunca está na mesma posição em relação à Terra - ele move-se, cresce (aparentemente) até se tornar mais poderoso do que a escuridão do inverno, para depois sucumbir às trevas do frio. Feoh/Fehu representa esta relação dinâmica e afeta tudo o que se relaciona com bens materiais, o dinheiro e as propriedades móveis.
A prosperidade anunciada por esta runa exige um compromisso sério a quem beneficia. Tal como o Sol simboliza vitalidade, o mau uso dos bens de Feoh/Fehu condena o indivíduo à perda simbólica da vida. A ganância, a avareza definha e esteriliza o corpo, a alma, o espírito de uma pessoa. A generosidade de Frey em abdicar da sua muito estima espada, onde reside grande parte do seu poder, indica-nos a atitude mais saudável ante as riquezas materiais. Saber como gastar e onde gastar o dinheiro é um dos exercícios mais complicados da sociedade consumista em que estamos enterrados.
Aplica-se a "espada" em terreno pantanoso e tóxico, de prazer efémero e cada vez mais viciante. Feoh/Fehu representa o gado, exatamente por se tratar de um bem móvel, que circula pelas pastagens, engordando e tornando-se num bem valioso para a consciência material dos povos germânicos que só conheceram o dinheiro pela influência dos romanos.
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