Iron Skegge e os mártires de Odin


E, pronto, chegamos à véspera do solstício de verão, à grande festa do culminar do triunfo da luz, que agora começa, aos poucos, a despedir-se do seu reinado para ceder o trono às trevas, no inverno. O Sol é o rei que ilumina a vida, o farol do nosso caminho espiritual, a tocha que nos guia na superação do limites inerciais da consciência, é a luz que nos desperta e nos faz reluzir enquanto indivíduos. 

O brilho das nossas convicções é que nos demarca dos restantes e é o foco que nos mantém no trilho do que consideramos justo e livre. Por coincidência, o dia 20 de junho, a véspera do solstício, é assinalado como um marco grandioso da firmeza da identidade do povo pré-cristão que resistiu, sem se vergar, apenas derrotado pela morte, ao Cristianismo. Na Noruega de 998, o novo rei Olaf Tryggvason ordenou a destruição dos antigos templos, numa campanha de terror desde que se convertera ao Cristianismo, mas Iron Skegge e alguns de seus companheiros lutaram com os seus homens em Maeri, para salvar os lugares sagrados do seus país. Alguns relatos dizem que Skegge foi morto em batalha, outros dizem que ele foi capturado e torturado, assim como tantos guerreiros pagãos naquele tempo. Com Eyvind Kelde, que acabaria afogado, e o sábio vidente  Thorleif, este capturado e violentamente torturado e a quem lhe arrancaram um olho, Iron Skegge, ou o Barba de Ferro, tornaram-se símbolos de bravura, ao defenderem a fé nos cultos antigos. Muitos e violentos foram os suplícios, desde morte com brasas ou por mordeduras de cobras venenosas, mas a crença em Odin e nos deuses de Asgard não vacilou. 

Chegamos também ao momento  de despertar essa força interior para resistirmos à subjugação de uma sociedade sem valores, em que a individualidade é um bem desprezado e só a força do poder prevalece. Atravessamos tempos negros, tumultuosos de tortura psicológica, à qual poucos vão sobrevivendo. Aquele episódio histórico da Noruega distante é, entre muitos outros, um lenitivo para encaramos de frente estes tempos de tempestade que enegrecem a nossa consciência, procurando levar-nos à desistência daquilo em que acreditamos. 

O valknut, ou dos caídos, os três triângulos entrelaçados, simbolizam os mártires que abdicaram da vida, sem perder a liberdade de escolha de crença religiosa. É verdade que são simples símbolos, que suscitam o escárnio dos vencedores de um combate sujo, mas é nos símbolos que buscamos o alimento para cerrarmos o punho e dizer basta, e mostrar a nossa força para lutar e de lograrmos da vitória. 

Saudemos hoje, e sempre, aqueles que morreram a gritar por liberdade.  

Comentários

  1. E assim os usos e tradições se vão se vão mantendo e/ou ajustando a novos tempos!

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