O apelo ao heroismo

E porque hoje é dia de São Jorge, patrono de Inglaterra, uma versão do nórdico Sigurd, o carrasco do dragão, e do grego Belerofonte, o grande herói que destruiu a quimera e uma série de monstros, e por coincidência interage com um evento astrológico muito significativo, a Cruz Cósmica, parece-me pertinente apelar ao herói que vive dentro de nós. Atravessamos um período de espinhos, sob a regência de Thurisaz, e de confrontos com os dragões em forma de medos e de recalcamentos que precisam de ser exorcizados para que possamos dar o passo em frente. Lembremos Sigurd como paradigma de superação física e psicológica por se propor aniquilar o ganancioso Fafnir, símbolo dos instintos básicos e do entorpecimento da consciência humana. O guerreiro-herói, embora sabendo o que iria encontrar ante uma força meramente física e instintiva, não tinha a certeza da eficácia do seu ato: apenas deu ação à sua vontade em destruir um elemento hostil e inútil e assim conquistar um bem maior. Ao banhar-se com o sangue do dragão, Sigurd tornou-se invulnerável e, ao ingerir umas gotas de sangue que brotavam do coração morto, apreendeu a habilidade de entender a linguagem dos pássaros. 

O exemplo épico de Sigurd orienta-nos na busca dos nossos dons ocultados pelos nossos fantasmas internos. Ao superarmos as barreiras emocionais que nos mantêm cristalizados num nível inferior, personificados pelos monstros, descobrimos a nossa consciência cognoscente. Belerofonte exterminou a Quimera, um ser monstruoso de aparência híbrida que alude à incongruência, ilusão e confusão, e pôs fim às situações desagradáveis e destrutivas.Tanto Sigurd, Belerofante e São Jorge são guerreiros do Apocalipse, eles limpam e purificam o caos, de modo a que se possa iniciar uma nova ordem, um novo ciclo de intelectualidade. 

O período que vivemos atualmente pede-nos essa regeneração, a elevação da consciência em direção a um conhecimento superior. A Cruz Cósmica envolve planetas revolucionários e apocalípticos. Plutão, Úrano, Marte e Júpiter forçam-nos à mudança dos valores. Os heróis da mitologia são arquétipos que surgem do nosso inconsciente para nos auxiliarem no renascimento mental, ético e, sobretudo, espiritual. A experiência não se pode confinar ao plano material, ao saciar das necessidades básicas, ela tem de avançar para degraus mais exigentes no nosso intelecto. Temos de dar ouvidos aos talentos, às artes criativas para que se comece a formar um novo tecido de sociedade. O herói é aquele que se deixa levar pela vontade e pela confiança no seu valor, e pela lealdade das suas convicções, mesmo quando o outro lado cria a ilusão de estar em vantagem e apresenta uma imagem ameaçadora.

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