Serra do Pilar: um axis mundi oculto

O ideal uma "só alma e um só coração orientados para Deus" e "amor da unidade e a unidade do amor" deu forma a um templo de grandeza aproximada a pequena escala das pirâmides do Egito, às contruções megalítcas do Neolítico em Stonehenge ou de Goseck. A estrutura circular do altar transporta-nos para essa noção de unidade com o centro, o ponto maior por onde entra a energia superior, solar e fonte de abastecimento supremo das necessidades espirituais e físicas; fundindo-se aqui o equilíbrio perfeito entre os três níveis de consciência ou xamânicos (mundo superior, médio e inferior). Neste lugar sagrado, os monges recriam a dimensão cósmica de ligação do espírito à nascente primordial, deixando-se viver no interior da alma. No exterior existe o seu equivalente nos claustros onde se apresenta uma mini-representação da divisão do espaço e do tempo da Terra. Estes dois círculos de igual diâmetro estão unidos pela sala do Capítulo, formando então um infinito perfeito, o símbolo máximo do Espírito. As sepulturas feitas sob medidas de maneira a perfazerem 360, imitando os 360 graus da circunferência, estão dispostas ao longo do círculo exterior, naquele a que deram o nome de claustros do silêncio, num total de 72 - o mesmo número de arcanjos cabalísticos cujos nomes partem da raiz do nome sagrado de Deus.
A planta circular do recinto exterior dos claustros contempla quarto entradas,
dispostas em função dos quatro quadrantes e a intercessão lembra uma
cruz no interior de um círculo, ou seja a roda solar, o domínio do espírito sobre a matéria e mesmo o "centro" do sistema planetário. A perceção deste
espaço conduz-nos ainda para a roda zodiacal por onde viaja o sol ao
longo de 12 meses/signos/casas zodiacais.Neste contexto, existem quatro pontos essenciais interligados às quatro estações do ano transpostos para liturgia da igreja como quattuor tempora anni, isto é "os Quatro Tempos do ano" momentos de observância de jejuns das quatro estações, que correspondem aos solstícios e equinócios. Mais: no interior da igreja,
lá no alto, está Santo Agostinho alinhado (e pode ver-se a aproximação
do foco de luz) de maneira a que receba os braços do Sol no solstício de
verão. O pelicano que alimenta as crias com a sua própria carne,
simbolizando o sacrifício e a ressurreição - o Cristo místico -
personifica também o sol, cujos raios são a vida das sete crias,
alegorias dos setes planetas.

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