Junho ao ritmo de Freya


Junho é o sexto mês do calendário gregoriano e o primeiro do verão. É uma espécie de "porta do ano" que se abre à descoberta sob intensa vibração feminina, com a romana Juno, contraparte da escandinava Frigga, a deixar cair a túnica que lhe ocultou e protegeu o corpo durante o frio do inverno. A libertação da sensualidade feminina iniciou-se na madrugada de 1 de maio, no culminar de uma noite que teve tanto de turbulenta como de deleites sensoriais, no apelo à magia da sexualidade. Em Valpurgias desperta-se o encanto dos corpos que se entregam ao sorriso da razão da sua existência, recordando os "vestidos de céu", em que as estrelas disfarçam as partes pudendas e convidam ao saber estar sem presença de pecado.
O Sol convida-nos ao bailado desnudado da Grande Mãe que mostra os seus seios pejados de saboroso leite e as suas roliças coxas. O instinto materno da progenitora tornada infame e proscrita resiste nos recessos da lembrança de mulheres independentes, belas, sedutoras irresistíveis que movem a alma do homem a tomar atitudes radicais para as sentir (não possuir). Elas tanto são Mouras Encantadas da velha Galiza ou as germânicas Damas brilhantes que despontam do nada, mas que com elas trazem garantias plenas de realização e satisfação, atrevendo-se a desafiar o regime castrador. A imagem cândida de Frigga dá lugar à da sensual e irreverente Freya. A personalidade erótica de Freya fê-la desaparecer por ordem dos missionários cristãos, resistindo apenas na faceta da Deusa consorte, patrona dos casamentos, profícuos aliás em junho, e da vida rotineira. A sexualidade para os povos germânicos, muito dados ao gosto da aventura e do risco, não obedecia unicamente aos meros critérios da reprodução: o ato era experimentado como algo perfeitamente natural e livre.
O sentimento de liberdade da sexualidade, porém, era comum a todas as culturas antigas. A expressão do corpo constituía a resposta a um impulso natural, como fazendo parte do drama cosmológico, do nascimento e ocaso do Sol, ou do ciclo das estações. A perceção do ritmo biológico em sintonia com a natureza proporcionava as mais belas histórias de encantar, em que o herói, como Sigurd, atravessa cerradas muralhas de fogo para despertar a adormecida Brunilda; e num ápice surge no horizonte a luz da alvorada. A mulher é a porta de iniciação, do desafio, da afronta ao medo.
Junho traz isto tudo à consciência, por ser o mês por excelência dos mistérios do sexo feminino, sagrado para Juno e a todos os deuses e deusas que presidem ao amor, paixão e beleza. Convido, pois, todos vocês para um bailado ao som dos poemas cantados, mansöngr, de forte pendor sexual, façamos um círculo em cujo centro fervilha a energia da vida, deixemos que essa espiral cresça, sem tabus, frustrações, porque o calor pede-nos um corpo inteiro, descomplexado como Freya na sua intimidade com os anões, no interior da caverna.

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