A lenda do Amanhecer

Na lenda de Svipdagr, além de extrairmos a metáfora da alvorada e dos benefícios do Sol, percebemos o quanto devemos ser sinceros quando nos propomos a construir um relacionamento.  O poema da Velha Edda prova que nada adianta ao herói esconder a sua real identidade para tocar o coração de Menglod, assim como podemos atrapalhar a saúde do desabrochar de uma relação se não formos claros de propósitos. Chega-se a um determinado ponto do processo em que não há como alimentar a ilusão e corremos sérios riscos de aniquilar uma excelente possibilidade de crescimento a dois. Vale a pena abrimos as nossas janelas internas para deixar entrar o Sol!!!

Vamos então à versão do poema antigo que nos ficou sem o registo do seu autor e podemos ler na Edda Poética, compilada por Saemund, filho de Sigfus, um apaixonado por relatos dos tempos pré-cristãos.  Esta figura parece conter reminiscências de cultos antigos, de cuja memória ficou no deus Dagr, Dia, talvez um parente de Swaefdaeg, "o Dagr dos Suevos" cultuado também pelos Anglos. Há quem classifique Svipdagr no antepassado mítico dos Suevos e terá sido uma divindade da fertilidade, associado aos ritos de acasalamento.

Svipdagr, "o romper do dia", foi desafiado pela madrasta a encontrar-se com a noiva predestinada, Menglod, "Dedicada aos Enfeites". Uma missão que se apresentava impossível: conquistar a bela donzela que vivia no castelo protegido por uma muralha de fogo. E para contornar as dificuldades, Svipdagr recorreu à necromancia, apelando aos poderes mágicos da falecida mãe, Gróa, que lhe recita nove encantamentos. O herói supera os obstáculos com esta ajuda e chega aos portões do dito castelo vigiados por Fyolvidr, um dos muitos nomes de Odin, a quem se declara chamar-se Vindkald, Vento Frio, tentando fazer-se passar por um gigante do gelo - arquirival das forças produtivas.

E sob este disfarce, Svipdagr montou um conjunto de dezoito perguntas enigmáticas para saber pormenores sobre o castelo, os seus habitantes e ambiente. Até que se percebeu pelas respostas de Fyolvidr sobre o castelo, localizado na Montanga da Cura, onde as mulheres se tornam saudáveis e prósperas, de que os portões só se abrirão ao seu nome verdadeiro e jamais à identidade adversa à natureza criativa da deusa.  Foi, então, que Menglod, outra faceta de Freya, deusa solar da fertilidade e da sexualidade, surgiu de braços abertos para saudar o regresso do seu amado.

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