A abertura dos portais de Helheim

À meia noite de 31 de outubro abrem-se os portais de Helheim e assim se dissipam os muros de bruma, deixando entrar as memórias residuais dos antepassados. É o momento de matar saudades e de resgatar recordações dos arcaicos guardiões, ainda hoje celebrados com gestos singelos de oferta de colheitas às alminhas espalhas pelas estradas secundárias deste país. Reminiscências do culto dos mortos que, felizmente, foram preservados na tradição popular das regiões serranas. 

A noite ilumina-se na ténue chama das velas e alegra-se em banquetes pantagruélicos sobre as pedras tumulares. Do México aos países do Norte, os cemitérios transformam-se em agitadas áreas de comunicação e comunhão. Os vivos voltam a partilhar a mesa com os ancestrais, mantendo os laços inquebrantáveis de uma linhagem em perpétua renovação. O submundo adquire, então, matizes coloridas e aquece com a celebração de Todos os Mortos, que a Igreja mascarou como dia de Todos os Santos. 
E são, de facto, santos os espíritos dos Antepassados, pois "vivem" sob a terra para preservarem o seu húmus - a substância que dá vida à semente. 

Hel, deusa do Submundo Escandinavo,  simboliza a faceta dual da morte. Parece estranho haver neste fim uma promessa de continuidade. Hel tem uma faceta luminosa, a garantir precisamente que a vida prossegue, embora longe de quem nos "semeou"; e tem a outra, a faceta negra, com a qual ceifa os que não queremos largar. Tudo isto em prol de um círculo ininterrupto de nascimento-morte-renascimento. 


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