Ser como a Árvore: Vida e Conhecimento

A árvore dá alimento, habitação, ferramentas, remédios, barcos, fogo, armas, sombra e conforto. É o mais antigo tema pictórico nascido no "ventre" de tempos imemoriais e dele restaram reminiscências da Árvore da Vida, do Conhecimento estampadas em diversas mitologias do mundo antigo. As representações arborescentes da Mesopotâmia ou Assíria, em torno das quais se envolvem duas personagens reverentes, em postura de  apelo e de agradecimento pelas suas dádivas, constituem as ancestrais das Árvores Sagradas da iconografia cristã. A conceção do Universo, sem espartilhos dogmáticos, foi cedendo à subordinação do pecado, e a fruta suculenta de sabedoria "parida" de símbolos da magia feminina, calcada como se fosse veneno.
Vistas como entidades gigantescas vivas a quem a imaginação do Homem primitivo dotava de espírito consciente, as árvores eram garante de "pão", de conhecimento arcano e inspiração de imortalidade. Eram Mulheres-Árvores as parideiras de alimento; e Homens-Árvores as mais robustas, sem fruto, e de grande porte, por isso representantes da memória dos Antepassados, da antiguidade onde se preserva a sapiência. A diferenciação de género que não separava o homem da mulher, por ordem de uma suposta superioridade de estatuto genético, mas unia-os numa jornada de companheirismo. Andavam de mãos dadas, a abrir as vias iniciáticas aos sequiosos e famintos humanos pela essência da vida universal.

As árvores crescem num esquema que nos ensina muito sobre o nosso desenvolvimento físico, psicológico e social. As raízes fortificam-se como os nossos vínculos na infância aos progenitores e vão estendo-se pelo solo, tal como o nosso corpo vai ganhando altura e as nossas vivências emocionais se sedimentam. O tronco engrossa com as experiências e interações interpessoais, caminhamos para a puberdade, para a maturação sexual, e os ramos alongam-se e preparam-se para receber a folhagem e os invólucros com as sementes que fecundarão a jovem árvore em crescimento ou deles germinaram frutos. O masculino e o feminino juntam-se numa harmoniosa conspiração, sem violência, sem exigências - apenas generosidade. A existência fértil das árvores não sucumbe após a sua adolescência, amadurece e torna-se ainda mais pródiga, próspera, segura e consistente. O outono traz os ventos que lhe despem da sua folhagem, mas fica a sua presença altaneira, como que a lembrar-nos que a velhice também resiste ao frio e pode brilhar no céu noturno do seu inverno.
Para Carl Jung, na visão arquétipica da árvore estão centrados os atributos maternos: nascimento, a vida, o desabrochar da forma, o crescimento vertical, a proteção, a  sombra, o teto. Mas também é o Pai, como o carvalho dos druidas, onde as glandes simbolizam a força fálica, e sua robustez a tal memória dos Antepassados - a glória de uma Sabedoria agora estranha ao pensamento egoista do Homem tecnológico.





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