Hoje, falo da Mãe esquecida
Ao segundo dia de março, mês dedicado a Marte, divindade romana, originalmente, protetora da agricultura, antes de personificar as forças marciais, apeteceu-me pegar e sentir a terra. Gosto do cheiro dessa massa negra,salpicada de granulos de vida e habitada por bactérias benfazejas que operam o milagre do brotar! Gosto também de me fundir aos elementos da Natureza e aos sentidos. Gosto de entrar no útero de uma Mãe em constante alerta e dedicação, e se revolta face aos maus tratos dos seus filhos. Gosto de imaginar o leite a esguichar dos seus mamilos - por isso achei graça à tradição das mães nómadas da Mongólia em limpar o rosto e as remelas dos bebés com o seu próprio leite- e de beber esse líquido reparador e vital. Só imagino...mas também não serei um bom exemplo para falar desses tempos de vinculação à figura materna, pois maltratei os mamilos da minha mãe...não sei, acho que fui tomada por um precoce impulso para a independência, para a liberdade, para a evasão...Talvez por isso, seja tão arisca,rebelde, provocadora...Acho graça ao facto de ter tido um desejo de sobrevivência diferente, não-convencional. Mas adoro a minha mãe, atenção!!!!
Adoro também a força mental de mulheres como eu!!! Por isso, faço vénias a Freyja, deusa escandinava que fazia manguitos aos machos e deixava-os perturbados, atraídos pelo seu poder pessoal. Era ela que mandava e manteve preservada a sua posição de mulher livre num panteão masculino. Freyja dominava a técnica do Seidr, da sedução,da estimulação dos prazeres num sentido produtivo. Com Ela não havia desperdício: só produtividade, criatividade, magnetismo. Freyja era a força da própria terra. Da sua menorreia floresce a vitalidade. Freyja é apenas um nome, cuja essência revemos em Innana, Astarte e outras deusas maltratadas, despejadas do seu altar por religiões dogmáticas, misóginas e uma série mais de vitupérios que não os enumero aqui...
Regresso ao cheiro da terra, que anseio com o aproximar da primavera. Freyja junta-se, em breve ao seu irmão Frey, para ambos assumirem o papel de agentes da fertilidade,
fecundidade, da riqueza e prosperidade, tal como os gémeos na Índia
e indo-iranianos. É uma união incestuosa - característica das culturas da Idade do
Bronze - mas ninguém se incomoda, porque somos mais felizes quando Eles estão juntos. Face à afinidade aos fenómenos naturais que condicionam os ciclos de fertilidade dos
solos e o seu tempo de arar, lavrar, semear e colher, estas Divindades
tornam-se Protectoras da Terra, fomentando a fertilidade e a prosperidade.
Estes irmãos gémeos divinos mantinham uma relação incestuosa de fundo mágico
entre os povos arcaicos agrários simbolizando o casamento do Sol (Frey) com a
Terra (Freyja). Esta união lembra-nos a androginia de Deuses Ancestrais da
vegetação e da fertilidade, mais tarde separados para realçar e valorizar os
seus atributos. Neste sentido, Frey e Freyja representariam uma só entidade,
personificando um Ser Mítico Primordial bissexuado que manteve os traços da sua
natureza andrógina na união sexual com a sua contraparte.
Freyr, “o Senhor”, está rodeado pelos espíritos das florestas e das
fontes. Trata-se de uma Divindade da Terra, que rege as chuvas fecundadoras dos
campos. É também a luminosidade do sol que faz germinar as sementes e promove o
crescimento do mundo vegetal. Símbolo da beleza física, Deus dos cavalos,
javalis, cães, mas também do gado e da sexualidade reprodutiva. Frey era
invocado para as boas colheitas e, também, para a paz - nenhum sangue
deveria ser derramado por motivos violentos, nem armas eram permitidas nos seus
lugares santos. Generoso, repartia a riqueza pelos homens. Por isso, era
conhecido como o Deus do Ano. Possuía o navio Skidbladner e era o
patrono dos marinheiros e dos pescadores, que celebravam com devoção Frey com
uma procissão com um barco.
Frey tinha também um javali de ouro, Goldenbristle
ou Slidrugtanne, cuja simbologia se intensificava a cada celebração do
Solstício de inverno, momento do ano em que os dias começam a crescer. Tanto o
barco como o javali foram tesouros trazidos por Loki do mundo dos anões e dos
elfos-negros. Tinha um gládio mágico que, quando manejado por um guerreiro de
coração arrojado, tornava-o invencível. A relação com o cão, cavalo e javali ou o porco, animais psicopompos,
reforça a ligação de Frey ao Mundo dos Mortos. Os ritos funerários de uma
pessoa de boa reputação implicavam sempre o sacrifício de um cão e de um
cavalo. A carne de ambos animais era lançada para o interior do barco-pira para
acompanhar o espírito do defunto pelo Mundo dos Mortos. Frey na Escandinávia; Fro na velha Germânia, é o poder que
transmite à vida humana toda a sua força e doçura. É o pai da luz, o farol do
dia.
Freyja incorpora tudo o que é bom, aprazível. É a "Senhora", dispensora da boa-vontade, da disposição para o amor. Então, por que razão, foi esganada esta Mãe, esta personificação da mulher íntegra, sensível, e em simultâneo provocadora, faminta de prazer???!!! Não, não acabaram com Ela...nós mudamos de estratégia para continuar a incomodar e manter o desejo. Ela permanece como amamentadora e todos gostam do seu leite!!!
Gostei muito do que li e fiquei feliz por saber que existe e escreve. Continue!...nós precisamos!...
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