Mergulhar em Aegir
Aegir, deus do oceano, um gigante amigo dos deuses de Asgard, e que promovia alegres festas no seu salão debaixo de água, vem do gótico *ahwo, «água». A sua companheira Ran já não gozava de igual estatuto. Ela representava o perigo das águas revoltas pela tempestade, as profundezas no nosso inconsciente, onde povoam os medos e o desafio da superação. Neste reino de incerteza, de dúvida, onde a morte desafia a vida, esforçamo-nos por vencer os obstáculos e seguir em frente, como os temíveis drakkares venciam a resistência das vagas agitadas para encurtar o caminho de chegada.
O palácio dourado de Aegir alude aos tesouros que o indivíduo pode retirar do mar, como fonte de alimento e de vida, mas também lembra-nos as consequências da impulsividade, da reação apaixonada às provocações. Não existem apenas monstros no seu âmago. Há no seu interior um potencial de transformação. Foi do mar que Rig trouxe a semente que criou as três classes sociais: escravos, agricultores e os nobres. Rig, um dos pseudónimos de Heimdall, tornou-se, à semelhança do hindu Agni, o herói civilizador proveniente do mar. O próprio Heimdall nasceu de nove mães ou nove ondas. Era para as águas salgadas de Aegir que se lançavam os barcos-pira, a última morada do chefe de clã.
Neste espelho não existe limites. O horizonte está em constante atualização. O Sol recolhe-se aqui diariamente para se despedir, preparando-se para renascer da escuridão que alegra Ran, Senhora dos Náufragos.
Comentários
Enviar um comentário