Tenham a coragem de Tyr

"Quem quiser crescer tem de ir à procurar do lugar e das pessoas entre as quais as suas qualidades possam ser estimuladas e postas à prova, tem de abandonar a sua casa, os seus hábitos e ir para onde se inventa o novo, onde tudo é possível. Mas para isso é preciso uma grande coragem, uma energia incomensurável", sugere Francesco Alberoni no seu livro Tenham Coragem. Vem isto a propósito ao ouvir os Wardruna, no tema dedicado a Tyr, o deus maneta dos povos germânicos, cujo mitologema está totalmente ensopado de alusões ao espírito intrépido, ao convite audaz de superação dos limites inerciais. É Tyr a personificação da audácia, ao sacrificar a sua mão direita nas fauces do lobo-gigante Fenrir, em prol da ordem cósmica, pelo menos até ao Ragnarok - o ponto de rutura, de degradação de um hierarquia não apenas de deuses, mas também da própria humanidade. Tyr não se incomodou pela sua deficiência física, pois a sua convicção em que todo o sacrifício existe um bem maior e libertador, é firme.
É este processo a que nos negamos a assumir. A ter a coragem para deixar para trás o que nos impede de levantar a nossa verdadeira pele, de testar o nosso potencial e ir, então, em busca do tal local onde se inventa o novo. Foi esta predisposição conquistadora que impeliu o ser humano, desde das suas remotas origens, em desbravar terreno, em encontrar várias fontes de comunicação, em perceber o que existia para lá da linha do horizonte que acolhia o sol divinizado. O sentido de territorialidade não consiste apenas um conceito geográfico ou social, diz respeito também ao sentido de presença do indivíduo, de afirmação consciencial, de capacidade para dizer NÃO, quando querem induzir-nos que o melhor é dizer SIM, em honra do status quo. Se fosse para dizer ámen com o que aparentemente parece estar correto, não seria possível dar saltos qualitativos na evolução da Humanidade. 
Seria melhor continuarmos afastados das savanas que nos tornaram erectos, implicando uma série de arranjos biológicos e genéticos, assim não nos expúnhamos à distinção e  à separação de um antepassado, cujos genes se preservam em muitos dos nossos comportamentos. Somos animais, sim...somos agressivos, sim...temos instintos mas estão adormecidos por ordem de um progresso cultural nem sempre com bons propósitos. Tyr desencadeia em mim a combatividade ancestral, o estado psicogenético que nos é característico por mais que os bondosos pensadores afirmem que somos bons e pacíficos na nossa essência. Não somos!!! Há que dizê-lo com frontalidade. Basta ver a tendência constante das grandes potências mundiais em patrocinarem conflitos e de países com armas nucleares mas sem investimento nas condições básicas de saúde...
Eu não gosto quando invadem o meu espaço vital... e sou brusca quando tentam. Sou combativa, gosto do desafio, deixo-me influenciar por Tyr, sim, muito...por isso posso dizer que tenho a coragem sugerida por Alberoni para deixar hábitos e criar uma nova epiderme. A audácia de Tyr é perturbadora, reconheço. Não é fácil permitir um forte abalo nas estruturas tidas como sólidas, apenas porque nos garantem segurança e poupam-nos de enfrentar desafios. Tyr entra nas nossas vidas como um golpe de boxe que nos atira ao tapete e nos deixa KO. Sangramos no princípio, para sorrirmos de provocação nos seguintes rounds...

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