Conversa entre o Passado e o Futuro

Deste
ponto retomo as minhas incursões pela Mitologia Nórdica como suporte
intrepertativo de acontencimentos mundanos. Trata-se de um excelente
ponto de recomeço de partilha de eventos recentes na minha vida que têm
posto em diálogo o meu passado com o meu futuro, estando eu no centro,
como Verdandi, a aguardar pelo crescimento da semente que um dia se
tornará em bela planta. Isto a propósito do interessante desafio que
Urd, a Senhora do Passado, a Mãe Anciã, atirou ao meu caminho na última
semana (não sei se por influência da aproximação da Casa XII da
Revolução Solar) que reativou relações dos inícios da minha idade
adulta. Acordei este sábado, 27 de setembro de 2014, animada por um
encontro que se formou ao jantar e se foi consolidando pela madrugada
com ex-compannheiras de Faculdade, um tempo que se tornou mítico nas
minhas recordações, pelo facto de um conjunto de fatores e
circunstâncias obstarem à realização e ao culminar do percurso
académico. Ficara a mágoa pela impossibilidade de saber se teria
concluído e superado esta meta na minha existência.
O
tempo avançou e com ele caminhei, procurando novos desafios, e atirei
para uma seção reservada ao esquecimento, algo que nunca ficou realmente
cicatrizado. Porque esquecer não tem o mesmo significado de superação.
Porque superar é vencer, ultrapassar sem deixar qualquer resíduo
emocional negativo, quando algo em nós se ilumina e nos faz avançar no
processo de crescimento mental, emocional e espiritual. Não é por acaso
que Skuld é representada de rosto velado e a enfrentar a irmã mais
velha, Urd. Elas estão em constante diálogo tácito, a discutir os
resultados e as consequências do nosso comportamento, sobretudo, o nosso
amadurecimento psicológico, de modo a estabelecer novas estratégias que
Verdandi, o Aqui e Agora, colocará em prática e nós executaremos, na
maioria dos casos de forma inconscientes, até desvelarmos o véu de
Skuld.
O
futuro poderá tornar-se demasiado longínquo e inacessível, se
persistirmos em determinados padrões que a vida já nos mostrara que são
caducos e contraproducentes, ou se não diluirmos a dor que se camuflou
nos recessos da nossa mente, então nunca a nossa verdadeira vocação se
revelará no horizonte. Urd ofereceu-me uma oportunidade para integrar o reprocessamento de
uma experiência que me foi dolorosa, por via do contacto com amizades
desse tempo mítico, que teve o condão de me fazer sentir como
participante, ainda que de forma indireta, da carreira académica.
Naquela noite, os 22 anos transcorridos dissipiram-se e percebi que,
afinal, "estive sempre lá", a discutir fórmulas matemáticas, a sentir o
estômago apertado na época de exames.
Construí
uma carreira, ao longo dessa saudade, escrevi dois livros, ministrei
workshops, fiz uma série de coisas; e finalmente fechei a ferida. Esta
tomada de consciência abir-me-á as portas às ofertas de Skuld e Urd
dar-me-á a sua bênção como mãe orgulhosa por ver a sua filha a caminhar
sozinha, inteira e pronta para a mudança.
A
partilha desta experiência tão pessoal foi a via que achei mais
produtiva para que percebam a relação entre o Passado e o Futuro. Porque
sem esta perceção, a vida mais parecerá um gato tonto a correr atrás da
própria cauda.
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