Conversa entre o Passado e o Futuro

"Elas [Nornas] elevam-se no éter cerzindo ténues e transparentes fios entrelaçados em intrincados nós, que se fundem no vazio infinito do universo. Ninguém os vê, mas sentem-nos no esforço limite da alma, do corpo e do espírito. Tão imperecíveis como as montanhas, as três Irmãs simbolizam a inevitabilidade do passado, presente e futuro fabricando no seu tear um eterno tapete (...)" execerto do intróito sobre as Senhoras do Destino, in  Máscaras da Grande Deusa.


Deste ponto retomo as minhas incursões pela Mitologia Nórdica como suporte intrepertativo de acontencimentos mundanos. Trata-se de um excelente ponto de recomeço de partilha de eventos recentes na minha vida que têm posto em diálogo o meu passado com o meu futuro, estando eu no centro, como Verdandi, a aguardar pelo crescimento da semente que um dia se tornará em bela planta. Isto a propósito do interessante desafio que Urd, a Senhora do Passado, a Mãe Anciã, atirou ao meu caminho na última semana (não sei se por influência da aproximação da Casa XII da Revolução Solar) que reativou relações dos inícios da minha idade adulta. Acordei este sábado, 27 de setembro de 2014, animada por um encontro que se formou ao jantar e se foi consolidando pela madrugada com ex-compannheiras de Faculdade, um tempo que se tornou mítico nas minhas recordações, pelo facto de um conjunto de fatores e circunstâncias obstarem à realização e ao culminar do percurso académico. Ficara a mágoa pela impossibilidade de saber se teria concluído e superado esta meta na minha existência.

O tempo avançou e com ele caminhei, procurando novos desafios, e atirei para uma seção reservada ao esquecimento, algo que nunca ficou realmente cicatrizado. Porque esquecer não tem o mesmo significado de superação. Porque superar é vencer, ultrapassar sem deixar qualquer resíduo emocional negativo, quando algo em nós se ilumina e nos faz avançar no processo de crescimento mental, emocional e espiritual. Não é por acaso que Skuld é representada de rosto velado e a enfrentar a irmã mais velha, Urd. Elas estão em constante diálogo tácito, a discutir os resultados e as consequências do nosso comportamento, sobretudo, o nosso amadurecimento psicológico, de modo a estabelecer novas estratégias que Verdandi, o Aqui e Agora, colocará em prática e nós executaremos, na maioria dos casos de forma inconscientes, até desvelarmos o véu de Skuld. 

O futuro poderá tornar-se demasiado longínquo e inacessível, se persistirmos em determinados padrões que a vida já nos mostrara que são caducos e contraproducentes, ou se não diluirmos a dor que se camuflou nos recessos da nossa mente, então nunca a nossa verdadeira vocação se revelará no horizonte. Urd ofereceu-me uma oportunidade para integrar o reprocessamento de uma experiência que me foi dolorosa, por via do contacto com amizades desse tempo mítico, que teve o condão de me fazer sentir como participante, ainda que de forma indireta, da carreira académica. Naquela noite, os 22 anos transcorridos dissipiram-se e percebi que, afinal, "estive sempre lá", a discutir fórmulas matemáticas, a sentir o estômago apertado na época de exames.

Construí uma carreira, ao longo dessa saudade, escrevi dois livros, ministrei workshops, fiz uma série de coisas; e finalmente fechei a ferida. Esta tomada de consciência abir-me-á as portas às ofertas de Skuld e Urd dar-me-á a sua bênção como mãe orgulhosa por ver a sua filha a caminhar sozinha, inteira e pronta para a mudança. 

A partilha desta experiência tão pessoal foi a via que achei mais produtiva para que percebam a relação entre o Passado e o Futuro. Porque sem esta perceção, a vida mais parecerá um gato tonto a correr atrás da própria cauda. 

 

 

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