Vé: o espaço livre e sagrado
Era na natureza que se encontrava a maior força intangível a partir da qual os antigos germânicos comunicavam com os deuses. Até à época Viquingue, os lugares de culto não estavam confinados entre paredes e estavam ainda (felizmente) muito distantes da sofisticação iconográfica cristã e já, antes, mantivera-se incólume da influência da estatuária e das aras romanas. Os relevos de pedra das Matres ou Matronaes são as poucas exceções de representações antropomórficas que encontramos não apenas em alguns pontos da velha Germânia, como também na outrora Gália e em quase todos os territórios por onde passou a cultura do Antigo Império de Roma.
Os templos Viquingues godhaus, a casa do deus, e blothaus, casa dos sacrifícios foram suplantando a ligação mais livre destes povos ao espaço em bruto, sem intervenção da mão humana. A energia divina brotava de um certo ponto, fosse ele uma árvore, uma nascente, queda de água, lago ou pedra, desde que emanasse uma força sobrenatural. A identificação da hierofania consagrava esse espaço natural, ao céu aberto designado por vé. O mesmo termo que encontramos envolvido o mito da antropogenia da Tradição Nórdica. Vé é
uma das três hipostases de Odin, descrito como
irmão do deus supremo Escandinavo, e concedeu a forma humana ao primeiro casal Ask e Embla, dois troncos de árvore de freixo e de ulmeiro, depois da doação do espírito (önd) por Odin e da vontade por outro dos seus irmãos,
Vili. Neste ritual de metamorfose e ontológica, Vé sinalizou o corpo com uma dimensão sagrada, como personificação do recinto
operativo e litúrgico de sacerdotes e magísteres, onde os Deuses se manifestam.
Vé significa lugar sagrado,
santuário onde se celebra e se comunga com os deuses. Então o nosso corpo, a dádiva graciosa da hispotase de Odin, é também um templo onde os deuses se manifestam, pelo que temos o dever de zelar pela sua manutenção e utilizá-lo como veículo de comunicação com o divino. O corpo humano é um fantástico instrumento de
superação dos obstáculos, que ele próprio vai armadilhando o caminho com os impulsos
fisiológicos. É um labirinto que exige, portanto, a convivência consciente e
construtiva da consciência espiritual com o corpo somático para que a resposta
às necessidades corporais não excedam a justa medida
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