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A mostrar mensagens de abril, 2014

Walpurgia: Festival das Feiticeiras

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Em Portugal, a noite de 30 de abril para 1 de maio é enfeitada com giestas uma planta arbustiva, de flores da cor do sol. É esta característica que lhe confere propriedades mágicas de proteção contra o temido "carrapato", um metaforismo do diabo, agente destrutivo que representa as forças caóticas do inverno. E é das giestas que se fazem vassouras das aldeias e que tanto inspiram a montada diabólica das bruxas. A tradição diz para serem colocadas do lado de fora das portas com intuito apotropaico. A flor amarela da giesta simboliza o poder curativo do sol e o triunfo do Rei da Vida sobre o Rei da Morte. O que agora é uma mera expressão folclórica e supersticiosa é uma bonita reminiscência do combate virtual das duas metades do ano, na viragem da Roda Sazonal, que se atualiza anualmente na alegre noite de Beltaine, de cujas fogueiras ao ar livre emanam fragrâncias de nova vida e encantamentos de boa sorte. É a celebração do poder da fertilidade e a derrota da est

O apelo ao heroismo

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E porque hoje é dia de São Jorge, patrono de Inglaterra, uma versão do nórdico Sigurd, o carrasco do dragão, e do grego Belerofonte, o grande herói que destruiu a quimera e uma série de monstros, e por coincidência interage com um evento astrológico muito significativo, a Cruz Cósmica, parece-me pertinente apelar ao herói que vive dentro de nós. Atravessamos um período de espinhos, sob a regência de Thurisaz, e de confrontos com os dragões em forma de medos e de recalcamentos que precisam de ser exorcizados para que possamos dar o passo em frente. Lembremos Sigurd como paradigma de superação física e psicológica por se propor aniquilar o ganancioso Fafnir, símbolo dos instintos básicos e do entorpecimento da consciência humana. O guerreiro-herói, embora sabendo o que iria encontrar ante uma força meramente física e instintiva, não tinha a certeza da eficácia do seu ato: apenas deu ação à sua vontade em destruir um elemento hostil e inútil e assim conquistar um bem maior. Ao banhar-

Sommarblót: Saudemos o regresso do Sol

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  O Sol, princípio vital e criador, regressou oficialmente, hoje, dia 14 de abril, ao seu trono no firmamento. O festival do Sommarblót recupera a celebração da chegada da segunda metade do ano, o período mais luminoso e produtivo que na noite de 30 de abril para 1 de maio é coroado após a vitória sobre os agentes do caos, que governaram a atmosfera no inverno. O Grande Astro diurno sobressaía por entre os vários conceitos esculpidos na arte rupestre escandinava da Idade do Bronze, desempenhando assim um papel central nos gelados e sombrios países setentrionais. Não sendo propriamente objeto de culto, porém, o astro-rei suscitava grande apreço sempre que surgia imponente e vitorioso no firmamento no dealbar da primavera. A promessa da sua ressurreição no Jól cumpre-se neste preciso momento em que se festeja as primícias da vegetação e do gado, e o início da cura dos solos expostos ao frio estéril. É o prenúncio do fim do caos, o renascimento da vida, da luz, da felicidade e da p

Vé: o espaço livre e sagrado

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Era na natureza que se encontrava a maior força intangível a partir da qual os antigos germânicos comunicavam com os deuses. Até à época Viquingue, os lugares de culto não estavam confinados entre paredes e estavam ainda (felizmente) muito distantes da sofisticação iconográfica cristã e já, antes, mantivera-se incólume da influência da estatuária e das aras romanas. Os relevos de pedra das Matres ou Matronaes são as poucas exceções de representações antropomórficas que encontramos não apenas  em alguns pontos da velha Germânia, como também na outrora Gália e em quase todos os territórios por onde passou a cultura do Antigo Império de Roma.  Os templos Viquingues godhaus , a casa do deus, e blothaus , casa dos sacrifícios foram suplantando a ligação mais livre destes povos ao espaço em bruto, sem intervenção da mão humana. A energia divina brotava de um certo ponto, fosse ele uma árvore, uma nascente, queda de água, lago ou pedra, desde que emanasse uma força sobrenatural. A ident